samedi 28 juillet 2012

Crônica ou conto??? Tentei um, saiu outro.


Há uns dois ou três anos, tentei fazer uma crônica, mas saiu essa coisa aí que não consigo definir. Tá mais pra conto.


Postura de caçador
Thalita Rego
 
 Há muito tempo, o homem mostra sua imponência através do tamanho da sua caça, ou simplesmente pela sua postura de caçador. Assim, nós conquistamos mulheres, empregos, dinheiro e tudo o mais.
Faz pouco mais de três anos que me casei e sempre mantive a minha postura de caçador com minha mulher. Sempre. Até o mês passado.
Estávamos sentados no sofá, assistindo um filme qualquer, começando alguma coisa que poderia resultar em herdeiros, quando ela viu algo se mexendo no chão. Um grito dela de “Rato!!!”  seguido pelo meu grito, totalmente caçador, agudo e estridente. Pulamos em cima do sofá e, sinceramente, não sei quem gritava mais. Recuperei minha postura de caçador correndo para buscar alguma coisa para matar o rato.  Minha mulher veio atrás de mim.
Coloquei-me à porta da sala com uma vassoura erguida, assistindo o rato passear pelo tapete da sala. Minha mulher berrava para que eu matasse o rato e isso me deixou tranqüilo, porque enquanto ela se preocupava em gritar, não prestava atenção em como eu estava tremendo, com aquela vassoura idiota na mão, morrendo de medo daquele rato assassino pular em cima de mim com aqueles dentinhos sedentos por sangue. Não me olhe assim, ratos são morcegos sem asas!
Não sei bem o que aconteceu, mas quando me dei conta, minha mulher estava no meio da sala, batendo com a vassoura (que estava em minhas mãos um segundo antes) seguidas vezes em cima do rato, até ele ficar com a espessura de papel.
Depois disso, minha esposa não queria mais dormir na casa enquanto não chamássemos o exterminador. Sinceramente, eu adorei a idéia. Aparentemente em função de uma epidemia de ratos, o exterminador só poderia ir até nossa casa cinco dias depois. Resumindo, paguei cinco caras noites em um hotel requintado AO LADO DE CASA, porque minha esposa não queria ficar em um hotel longe do ponto onde ela pega ônibus todos os dias.
No dia marcado para o exterminador aparecer, fiquei esperando por ele na varanda que tem em meu quarto. Achei que os ratos tinham medo de altura. Descobri que estava completamente enganado quando vi um serelepe ratinho saltitando até a borda da sacada. Aproveitei a oportunidade e o chutei para longe. Não longe o suficiente, pois ele pousou confortavelmente na mochila de um inocente transeuntente.
Nessa hora eu vi o carro do exterminador chegando. É engraçado como essas empresas sempre nos garantem que seus carros são discretos, que não precisaremos nos preocupar com os vizinhos, porque nunca perceberão que tivemos problemas com ratos e essas coisas todas. Eu sabia que era o carro do exterminador porque era um grande furgão branco que parou na frente da minha casa. Tive certeza quando saíram dois caras de boné e camiseta laranja, onde se lia, em letras garrafais, “Exterminador de pragas – Não deixe de exterminar a sua!”. Bem discretos.
Os caras passaram a manhã inteira andando de um lado para o outro da casa. Concluíram que os ratos estavam vindo da casa vizinha e me cobraram uma fortuna. Minha esposa e eu voltamos para casa, mas a vida nunca mais foi a mesma. Com a minha postura de caçador, naquele dia, foi-se também a moral.
Então, mantenha sua postura, se não quiser passar o resto de seu casamento ouvindo que você lava louça (que um dia antes do casamento jurou que nunca tocaria) porque não é capaz de matar um rato.

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