samedi 21 juillet 2012

Conto (velho)


Estava organizando alguns arquivos antigos do computador e encontrei um conto que escrevi no início de 2005.

A princesa-tapete
Thalita Rego

Um camponês andava pela estrada pensando em como era abençoado pelos deuses. Conseguira vender uma vaquinha esquelética por uma quantia relativamente boa, com a qual poderia alimentar sua família durante um mês inteiro. Andava tão distraído que não viu os dois homens que se aproximavam sorrateiramente. Não teve tempo de dizer nada antes de o agarrarem. Espancaram-no sem dó, arrancaram-lhe todas as roupas e jogaram-no em um barranco para que morresse de fome e frio.
O pobre rapaz, no fundo do barranco, só pensava em seus pais, já bem velhinhos. Começou a chorar. Seu corpo inteiro doía por causa dos ferimentos, mas não era por isso que chorava, não imaginava como seus pais sobreviveriam sem o dinheiro e sem a vaquinha. Quando já não tinha forças nem para chorar, o camponês viu uma abertura cortada na pedra do barranco, parecia a entrada de uma caverna. Arrastou-se até a abertura e entrou para se proteger da chuva que começava a cair. Aos poucos seus olhos foram se acostumando a escuridão do lugar, foi então que viu um arco de pedra, e embaixo deste, um túnel muito comprido, que levava (sem dúvida) ao coração da montanha. O arco era todo modelado na pedra, excepcionalmente bem trabalhada. Isso despertou a curiosidade do camponês que, mesmo com sérias dificuldades para se locomover, arrastou-se em direção ao túnel, passando pelo arco e seguindo rumo ao desconhecido. O túnel parecia não ter fim. Logo o camponês estava extremamente cansado e seu corpo doía mais e mais, por isso, acabou adormecendo no meio do caminho.
Quando acordou, percebeu que seu corpo não doía mais. Abriu os olhos e viu que não tinha mais ferimentos. Olhou ao redor e não reconheceu o lugar, não estava mais naquele túnel escuro e frio, estava deitado em uma cama confortável, em um quarto amplo, bem iluminado e aconchegante. Ao lado da cama havia uma mesa com um banquete servido. O camponês, confuso, levantou-se e comeu sozinho, depois começou a andar pelo quarto analisando tudo. Estava em perfeita ordem, metricamente bem arrumado. Estava tão distraído observando atentamente cada item do lugar, que não viu quando alguém se esgueirou sorrateiramente para dentro do quarto através de uma cortina. O camponês virou-se, distraidamente, para observar o outro lado do quarto e deu de cara com um tapete que segurava um jarro com água e se movia com graça. Não é preciso dizer que o rapaz levou um susto enorme, não é sempre que vemos um tapete andando por ai. “Desculpe-me, não quis assustá-lo!” – o tapete falou com uma voz cristalina – “Vim trazer-lhe água, pensei que pudesse se cansar de só tomar vinho”. O rapaz, muito confuso, quis saber onde estava. O tapete respondeu que o tinha encontrado a uns dois dias no túnel de pedra, e que levara-o para seus aposentos no intuito de curar suas feridas, disse também que estavam no palácio subterrâneo de um feiticeiro muito poderoso que não gosta de visitantes. “Pode ficar tranqüilo, ele não sabe que você esta aqui!” – completou o tapete.
O rapaz passou mais alguns dias ali, sempre com o tapete a levar-lhe comida e bebida. Todas as tardes conversavam sobre o mundo fora do palácio subterrâneo, que o tapete não via fazia anos. O rapaz, a cada dia que passava, gostava mais de sua companhia tão exótica. Um dia, enquanto conversavam, soou uma voz estridente: “Lilah! Lilah!”. O tapete rapidamente pegou o camponês pelo braço e pediu que arranjasse um lugar para esconder-se, porque o feiticeiro estava chegando. O rapaz correu e escondeu-se atrás de uma cortina, bem na hora em que um homem alto e feio entrava no quarto com o maior estardalhaço. “Lilah, por que não veio quando chamei? Sabe que não gosto quando faz isso. Já lhe dei ordens para que não fizesse isso!” – gritava o homem, o tapete respondeu com um ódio que, sem querer, deixava transparecer na voz: “E eu já disse que não obedeço a ordens de ninguém, muito menos as suas!” O feiticeiro, de raiva, quebrou alguns objetos que decoravam o quarto, e disse que o tapete já estava passando dos limites e que se não casasse com ele, o feitiço nunca seria quebrado. O tapete respondeu que preferiria ser tapete o resto da vida a se casar com um homem como ele. O feiticeiro virou as costas e disse: “Você está presa aqui, nunca encontrará um homem para quebrar-lhe o feitiço, se não quer casar-se comigo, então que viva como um tapete o resto de seus dias.”, e saiu quebrando tudo o que via pela frente. O rapaz, atrás da cortina, ouvira tudo, abismado.
Depois que o feiticeiro saiu do quarto, o tapete foi até onde estava o rapaz e disse que precisava contar-lhe sua história. O tapete, na verdade, era uma princesa que havia sido enfeitiçada pelo dono do palácio subterrâneo. Tudo porque os reis de Doutoille, pais da princesa, não quiseram prometê-la em casamento para Mazehard, o feiticeiro. Este, irado, jogou um feitiço na recém nascida dizendo que quando ela completasse 12 anos, transformar-se-ia em um tapete e o feitiço só seria quebrado se a menina encontrasse um homem disposto a casar-se com ela no dia de seu aniversário de 21 anos. Quando completou 12 anos, Mazehard trancou-a em seu palácio subterrâneo, onde vivia até agora. Só havia um problema, seu aniversário de 21 anos seria no dia seguinte. “Estou condenada a viver como tapete o resto de meus dias!”
O rapaz olhou ternamente para o tapete e disse que estava apaixonado, mesmo antes de saber que o tapete era uma princesa e, se ela quisesse, eles se casariam imediatamente. O tapete disse ao rapaz que também havia se apaixonado por ele, e por isso contara-lhe sua história.
Na manhã seguinte, o tapete pediu que Mazehard chamasse alguém que realizasse casamentos. O feiticeiro pensando que finalmente se casaria com a princesa, realizou seu pedido o mais rápido que conseguiu. O tapete disse à Mazehard que gostaria de conversar com o homem que realizaria o casamento, antes que este acontecesse. O homem entrou nos aposentos do tapete e realizou seu casamento com o rapaz, sem que o feiticeiro soubesse. Ao término da cerimônia, o tapete transformou-se em uma moça linda, e fugiu com seu novo marido e seus sogros para reino de Doutoille. O feiticeiro quando descobriu o que havia acontecido, ficou tão bravo que fez tremer a montanha, e acabou morrendo soterrado.
Os recém-casados viveram felizes até o fim de seus dias.

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